Apresentação

Casa das Memórias Apresentação por Olinda Santana

O escritor Fernando Dacosta amigo da poetisa Natália Correia, numa entrevista dada à Revista da Sociedade Portuguesa de Autores, em 2009, intitulada: “Sem memória, não há futuro” – declara que a referida poetisa proferia uma frase, repetidas vezes, no final da sua vida: “Ser-se hoje revolucionário é preservar a memória”. A clarividente ideia de Natália Correia será a nossa bússola no projeto da Casa das Memórias.
Fernando Dacosta explana a ideia de Natália, verbalizando o seguinte:
Porque, sem memória não há pensamento e sem pensamento não há ideias e sem ideias não há futuro. E não podemos esquecer de que temos uma história fabulosamente rica, quer para o bem, quer para o mal. Sobretudo no século XX. Temos um concentrado de vivências, como poucas gerações têm”. (Dacosta 2009: 10). Revista da Sociedade Portuguesa de Autores: “Sem memória, não há futuro: Fernando Dacosta”. Autores. (N.º 21) (Janeiro / Março 2009): 10-15.
Por possuirmos uma história recente desmesuradamente rica (implantação da república, regime ditatorial, guerra colonial, emigrações, revolução dos cravos, democracia, entrada na União Europeia, convulsões financeiras, etc.) acumulamos um sem-número de vivências, de experiências que precisamos de passar às gerações vindouras.
Hoje em dia há uma superabundância de informação que deve ser registada e tratada. Os meios de comunicação social são os primeiros a joeirar o manancial informativo. Na realidade, hoje existe uma aproximação metodológica dos meios de comunicação social à história. Muitos jornalistas transformam-se em historiadores do presente. Lembremos alguns exemplos paradigmáticos:
- os documentários do jornalista Jorge Pelicano "Ainda há Pastores?" realizado em 2006 e “Pare, escute e olhe”, concebido em 2009;
- o filme documental “Lisboa domiciliária”, de Marta Pessoa, exibido nas salas de cinema em 2010;
- o programa televisivo da SIC: “Histórias com gente dentro”, realizado pela jornalista Ana Sofia Fonseca, exibido em fevereiro em 2011;
ou ainda
- os diários de viagem do jornalista Nuno Ferreira, no seu blogue, http://portugalape.blogspot.com/, entre outros exemplos.
Os supracitados jornalistas usam a metodologia da história oral e são, na realidade, historiadores do presente.
Como nos ensina a história hoje, todos nós somos fazedores de história, todos nós deixamos as nossas pegadas nas palavras (escrita) e nas vozes (oralidade) que se esvaem com o tempo. Porque tudo é efémero, precisamos de contar, de registar, de testemunhar o nosso vivido.

Projeto
Queremos contribuir para a construção de uma “história do presente” que recupere a “condição cidadã para a qual afinal nasceu na antiga Grécia” (Bebiano 2003: 236). Ouvindo e registando as histórias de vida dos nossos anciãos e contemporâneos, construiremos leituras do passado que ajudam a interpretar a realidade atual. Dando informes sobre as formas de viver de um passado recente, estamos a preparar as novas gerações para serem cidadãs de pleno direito, capazes de exercerem a cidadania com espírito crítico.
Se a história estuda o homem em sociedade, esta não pode dissociar-se da cultura, da língua, da comunicação, ou seja, do sistema de significações que fornece sentido ao mundo, através da interpretação dos símbolos e dos signos tradutores das formas de vida e das relações sociais entre grupos humanos. O fenómeno humano é complexo e exige, mais do que nunca, um diálogo multidisciplinar dos mais diversos conhecimentos. Não pode, de igual forma, esquecer o precioso e insubstituível contributo das novas tecnologias na divulgação dos resultados.
Pretendemos criar um acervo virtual de histórias de vida e de histórias temáticas, usando a metodologia da história oral. É nosso objetivo recolher e custodiar histórias de vida, no endereço eletrónico da Casa das Memórias, em ficheiros Avi, em CD-ROMs, numa base de dados. Prevemos, analogamente, fazer algumas publicações em suporte papel. É importante fazermos registos orais e escritos das histórias de vida das mais diversificadas pessoas, naturais dos mais diferentes locais do país. A história oral permite conhecer as trajetórias de vida das pessoas comuns, dos fazedores da história, pois todos nós deixamos os nossos sinais na família em que vivemos, nos locais que frequentamos, nos trabalhos que fazemos, etc. Essas marcas, ficando registadas em discursos, poderão posteriormente ser estudadas numa perspetiva interdisciplinar, histórica, discursiva, social, cultural, etc.
Um filão importante e muito ligado à história biográfica é o núcleo das correspondências escritas e enviadas, outrora, pelos correios. Atualmente, as correspondências enviadas pelos correios estão em vias de extinção. Talvez só algumas pessoas mais idosas ainda se correspondam ou jovens apreciadores da escrita, estes dois grupos continuem a cultivar o envio das missivas via postal. As histórias de vida e as correspondências são fontes informativas e históricas singulares e desvendam as configurações que as pessoas dão às suas existências.
As histórias biográficas podem ajudar a criar laços entre as várias gerações. São meios importantes para a passagem de saberes e testemunhos. As novas tecnologias permitem-nos, hoje, guardar e divulgar, facilmente, as histórias digitais que formos recolhendo e partilhando.

Principais metas do projeto
- recolha de documentos orais junto de familiares e amigos através de entrevistas orais registadas em áudio e vídeo;
- registo escrito das entrevistas orais;
- recolha de documentos escritos (correspondências, fotografias com legendas, cadernos escolares, cadernos de receitas, diários, agendas pessoais, profissionais, entre outros);
- exposições documentais, no Ciclo Cultural da UTAD, e virtuais, no endereço eletrónico da Casa das Memórias, sobre acervos das pessoas comuns;
- palestras, seminários sobre história oral, sobre epistolografia, entre outros;
- criação de um arquivo digital da “Casa das Memórias”.

Pretendemos criar uma equipa de colaboradores voluntários. Cada colaborador ficará incumbido de registar histórias de vidas de familiares mais experientes, de amigos, de pessoas que tenham tido experiências de vida interessantes de algum ponto de vista (pessoal, profissional, social, político, humanitário, etc.). Depois de uma prévia autorização por escrito do informante, as entrevistas orais, num primeiro momento, serão gravadas em suporte áudio e vídeo e, posteriormente, registadas e disponibilizadas por escrito no endereço da “Casa das Memórias”.

Como fazer as entrevistas?
Nos primeiros contactos com os informantes e para ganharmos a confiança e a cumplicidade dos mesmos, devemos proceder a anotações por escrito, num caderno ou bloco de notas. Depois de vários encontros, devemos usar um guião, previamente adaptado ao entrevistado e aos assuntos que queremos inquirir. Antes de iniciarmos a entrevista oral devemos tirar, com a autorização do entrevistado, uma ou duas fotografias, para servirem de registo visual do informante-colaborador.
As entrevistas não devem ser condicionadas por uma concisão de tempo, devemos deixar os colaboradores falar livremente. Dado que se trata das histórias de vida de cada um de nós, cada uma vale por si, apresentando informes variados de acordo com as experiências de vida diferentes.
Estamos de acordo com Maria Manuela Cruzeiro, quando esta explica que cada história oral é “um documento único e irrepetível, revelador como poucos de uma vida, de uma personalidade, e não apenas o registo de um percurso frio e impessoal, e nem por isso mais verdadeiro” (Cruzeiro s.d.: 4).
O entrevistador, por sua vez, deve ser intuitivo e ter capacidade para ouvir calmamente, sem pressas. Tem de deixar o colaborador exprimir as suas opiniões sem o contradizer, mas tem de controlar a entrevista com novas perguntas se forem precisas para levar a entrevista até ao fim.

Algumas sugestões de temas a tratar
Relatos de guerra (primeira guerra mundial, segunda guerra mundial, guerra colonial ou outra)
Loucuras de amor (histórias de amor, de fugas, de casamentos contrariados…)
Trabalho (camponeses, operários, comerciantes, artífices, etc.)
A migração, por que motivos? Para onde?
A emigração, por que motivos? Para onde? Em que época?
A imigração, por que motivos? De onde? Em que data?
A aventura da vida (“A minha vida dava um romance, um filme…”)
O que sabes da vida dos teus pais ou dos teus avós?
A tua experiência de vida, os bons e maus momentos? Nasceste noutro país? Conheceste outras formas de vida? O que te marcou positiva ou negativamente?
Experiências escolares (seminários, colégios internos,…);
Experiências de doenças físicas (cancro, doenças raras), psicológicas (depressões), entre outras;
Experiências de ruturas (divórcios, separações), de sofrimento;
Experiências de privação (desemprego, falta do primeiro emprego, trabalho precário)…
Experiências de pessoas especiais num mundo tão pouco especial (deficiência)…
Outros temas.

Equipa
Criação e coordenação: Olinda Santana
Logotipo: Paula Gaspar
Gestão do endereço eletrónico: Filipe Ribeiro
Equipa principal:
Olinda Santana
Isabel Sequeira
Ana Lúcia Costa
Filipe Ribeiro
Paula Gaspar
Ana Inês Pereira

Colaboradores voluntários:
Stella Aguirre
Paula Teixeira
Susana Rodrigues
Sofia Teixeira
Mónica Cardoso
José Fidalgo Fernandes
Francisco Gonçalves
Rosário Melides
Otília Duarte
Priscilla Cruz
Pedro Filipe Brandão Araújo
Ana Cristina Trindade Pedrosa Rodrigues Santana
Maria Paula Trindade Pedrosa Santana