Entrevistadora: Ana Marisa Amaral Macieira
Entrevistada / colaboradora: Luísa de Brito
AMAM - Como se chama?
LB - Luísa de Brito.
AMAM - Data de nascimento?
LB - 14 de dezembro de 1924.
AMAM Onde nasceu? Local de nascimento
LB - Lugar do Assento, freguesia de Palmeira, Braga.
Vida dos pais
AMAM - Como se chamam ou chamavam os seus pais?
LB - Francisco Fernandes Aurtures? e Maria Teresa de Brito
AMAM - De onde eram? Local e data de nascimento?
LB - Pai – Lugar da Póvoa, Campo da Aviação, Palmeira, nasceu em 1867.
LB – Mãe – Lugar da Portela, Palmeira, 29 de março 1892.
AMAM - Sabe como eles se conheceram?
LB - Não.
AMAM Em que ano casaram?
LB - Não me lembro.
AMAM - Onde ficaram a viver?
LB - Em Palmeira.
AMAM - Quantos filhos tiveram?
LB - Três, os outros dois eram mais velhos, mas morreram antes de eu nascer. Tinha outra irmã mas só da parte do pai e era muito mais velha do que eu, morava em Lisboa.
AMAM - Qual a profissão do seu pai?
LB - Era laborista (esculpia a pedra), trabalhava a pedra para as igrejas e assim.
AMAM Qual a profissão da sua mãe?
LB - A minha mãe vendia fruta, em Braga.
AMAM - Dificuldades e facilidades da vida dos seus pais e da sua?
LB - Não havia dinheiro, mas foi boa, cantava-se e dançava-se, não era como agora.
A sua vida
AMAM - A Sr.ª nasceu em que ano?
LB - Em 1924.
AMAM - Quantos anos frequentou a escola?
LB - Nenhum. Eu morava à beira da escola, mas nunca fui porque nunca ninguém se importou. Eu via-os a brincar no recreio e aprendia as cantigas todas que eles cantavam. Mas sei as horas, porque eu era pequena e tinha de olhar por uma criança doentinha e tinha de lhe dar os remédios, então ensinaram-me a ver as horas! E sei contar muito bem, sei fazer contas de cabeça e “antes” sabia a tabuada toda de cabeça. Diziam que eu era muito esperta e que se tivesse ido à escola tinha dado uma doutora!
AMAM - Onde trabalhou?
LB - Vendia fruta com a minha mãe. Levantava-me às 5h da manhã e íamos ao Alívio esperar as mulheres que traziam a fruta das aldeias, vinham do Pico dos Regalados, Amares, Vila Verde, vinham aos bandos a pé por ali fora. E de Braga ao Pico levava quase 3h de caminho! Depois do Alívio ia a pé até ao centro de Braga aos armazéns e à praça (mercado) para vender a fruta. Também havia os laranjais e eu e minha mãe comprávamos e fazíamos mais dinheiro se fosse assim. Fazíamos uma rodilha e levávamos os cestos à cabeça, pesavam muito era conforme as encomendas.
Duma vez a Sr.ª Mariquinhas Ferraz, que tinha um armazém ali na Sé, recebeu uma encomenda de laranja azeda para doçaria para Lisboa e pediu-nos para lhe arranjar. “Atão” nós fomos arranjá-la à Veiga de Penso (quase em Famalicão) e a senhora tinha dois quintais (120kg) ainda passava 5kg (um quintal = 60kg), ela ficou admirada com a encomenda porque ninguém queria a laranja azeda e vendeu-nos aquilo tudo por 15 escudos. Nós apanhamos as laranjas e com cada nosso quintal, a passar, à cabeça lá viemos para Braga. Depois ao vir para cá paramos na Tasca do Juca em Figueiredo, comemos cada uma nosso pedaço de toucinho cozido com pão de milho e uma caneca de vinho e depois seguimos para Sé, mas aquilo subia muito e lá tivemos de parar outra vez na Ponte de Pelames “para dar um ar”. Quando chegamos à Sé, a Sr.ª Mariquinhas Ferraz olhou para nós, tão carregadas, e ficou tão admirada que diz ela: “Não há pai para vós”!
Ora bem, passavam 5kg dos dois quintais mas ela lá ficou com tudo e pagou 215 escudos por as laranjas! Partimos 100 escudos para cada uma, tirando os 15 do “casco”. Foi um rico negócio! Eu tinha sorte com a Graça de Deus!
Emigração
AMAM - Emigrou para o estrangeiro?
LB - Não emigrei, mas tive para emigrar! Em Palmeira, havia uma família rica que gostava muito de mim, e eles tinham uma menina muito ?? e queriam-me levar para fazer companhia à menina, eu devia ter 9 anos mais ou menos, e eles cortaram-me o cabelo à “garçone”, que naquele tempo era moda, mas depois a minha mãe não me deixou ir.
AMAM - Quando era jovem, como se divertia?
LB - Era só cantar e dançar, até ao domingo eu ia para praça vender com a minha mãe e depois quando chegávamos lá andavam as bandas a tocar com o cavaquinho e era tão giro que andava tudo a dançar, era solteiras, casadas andávamos todas.
AMAM - Quando e como conheceu o seu marido?
LB - Não me lembro, eu sempre o conheci, porque ele era de Palmeira e as famílias ainda se pertenciam.
AMAM - Quantos filhos tiveram?
LB - Oito! Mas três morreram, dois eram gémeos e nasceram antes do tempo e morreram no dia em que nasceram e a Inês morreu com um ano e meio com uma pneumonia. Naquele tempo, morriam muitos bebés e em Agosto é que era uma “limpeza”, diziam que era por causa das vacas comerem carocha do milho (o tronco) e diziam que fazia mal ao leite e depois os bebés bebiam e depois morriam.
Práticas religiosas
AMAM - Pratica /frequenta alguma religião?
AMAM - Pratico, ainda hoje fui à missa!
AMAM - Qual?
LB - Sou católica!
AMAM Andou na catequese?
LB - Andei sim senhor.
AMAM - Fez as comunhões? Crisma?
LB - Fiz a primeira comunhão com 7anos, e a comunhão solene e o crisma no mesmo dia tinha eu 10 anos.
AMAM - Ia nas procissões?
LB - Ia, cheguei a ir de anjo, havia a Fé, a Esperança e a Caridade, e eu fui de Caridade.
AMAM - Pertenceu a alguma congregação da igreja?
LB – Não.
AMAM - Foi mordomo de alguma festa religiosa?
LB - Fui da festa de S. Romão (DATA), pagava 5 “merreis” naquele tempo! E Fui de Beijamina ( ), paguei 1 “coroa”.
Opções políticas
AMAM Foi ativista político?
LB - Eu não, nunca gostei dessas coisas.
AMAM - Pertenceu a algum partido ou movimento?
LB - Não.
AMAM - Esteve preso no Antigo Regime?
LB - Não.
AMAM - Participou em manifestações?
LB - Também não.
AMAM - Foi apoiante do Regime Salazarista?
LB - O Salazar não era boa pessoa, ele tinha tudo e ninguém podia fazer nada. Eu fui multada duas vezes por andar descalça, e andava descalça para não romper os socos, porque depois não tinha dinheiro para mandar pôr as solas. Da primeira vez não paguei porque paga-se no Governador Civil e ele cheguei lá e era um mar de gente num largo que lá havia em frente e o Governador Civil veio à porta e viu tanta gente tanta gente que mandou tudo embora disse assim: “está tudo perdoado”!
Da segunda vez tive que pagar. Não se podia fazer nada se visse um “pobrinho” a pedir mandava-o prender.
Quando o Salazar foi eleito as “parolas” do Pico vinham por aí abaixo em carroças a cantar todas contentes até à cidade:
“A chita da minha blusa já se não usa foi para lavar,
Não quero a tua riqueza, quero a pobreza do Salazar!
A chita da minha blusa já se não usa foge demónio,
Não quero a tua riqueza quero a pobreza do meu António!”
Vinham contentes, se elas soubessem o que lhes ia “carregar” em cima!
AMAM - Pertenceu à polícia política de Salazar?
LB - Não senhor!
AMAM - Seguidor / admirador de Salazar?
LB - Não, eu não gostava dele.
AMAM - Seguidor / admirador de Marcelo Caetano?
LB - Também não.
AMAM - Por quê?
LB - Porque não gostava dele e não gostava dessas coisas.
AMAM - Viveu alguma catástrofe natural (cheias, temores de terra, derrocadas, guerra, exílio, etc.)?
AMAM - Tremor de terra e ciclone.
AMAM - Sofreu alguma experiência traumática?
LB - O primeiro ciclone que vi tinha eu 10 anos (1934), andei para aí 15 dias a tremer!
AMAM - Acidente?
LB - Tive há 4 anos quando ia num passeio com o centro social o “chaufer” esbarrou-se mas não me aleijei!
AMAM - Doença grave?
LB - Tive um derrame cerebral.
AMAM - Como encarou essa situação?
LB - Como um milagre, até a minha médica disse que foi um milagre.
AMAM - Fez alguma loucura na sua vida? (Amor, negócios, aventuras, fugas, etc.)
LB - Eu não.
Entrevista realizada dia 4 de abril de 2011, em Braga.
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